No dia de hoje, 28 de agosto, a Santa Madre Igreja celebra a memória de Santo Agostinho, o “Doutor da Graça”. Deus quis precisar de Agostinho para que, através dele, várias heresias fossem combatidas e diversos corações pudessem Sentire cum ecclesia, como o seu um dia sentiu. Agostinho que tarde amou o Altíssimo, e O procurava fora de si, quando Deus habitava dentro dele, se deixou seduzir pelo Bom Deus, a Voz forte do Senhor rompeu a barreira da sua surdez, e brilhou tão forte que dissipou sua cegueira. Depois de provar de Deus, Agostinho sentiu fome e Sede do Autor da vida, e quando se deixou tocar, ardeu no desejo de Sua paz. (AGOSTINHO, 2014, X 27)
Filho de Patrício e Mônica, Agostinho nasceu em Tagaste na Tunísia no ano de 354. Viveu uma vida de pecado durante 32 anos, e através da intercessão de sua mãe que rezava diariamente, converteu-se ao cristianismo e batizou-se em 387. Seu batismo foi ministrado por Santo Ambrósio, um outro Doutor da Igreja e atribui-se a criação do hino do Te Deum a esse momento. Depois que recebeu o batismo, Agostinho tornou-se padre e depois bispo de Hipona. (AQUINO, 2008)
Santo Agostinho de Hipona tem por símbolos em suas imagens um coração flamejante e seu olhar voltado para o alto. Sua história de conversão deve-se às orações diárias de sua mãe, que piedosamente ia até a Igreja para rezar pelo seu filho. Agostinho teve um filho chamado Adeodato, estudou filosofia e converteu-se ao cristianismo também por influência de Santo Ambrósio. A maioria dos seus escritos era combatendo as heresias que enfrentou em sua época, tais como o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo. Sendo autor de uma enorme quantidade de obras teológicas e espirituais, podemos destacar a obra Confissões que narra sua conversão, e a obra A cidade de Deus, que dialoga com a ideia de que a queda do Império Romano não se deu pelo abandono dos deuses. Agostinho também é conhecido como um dos quatro principais Padres (no sentido de pai) da Igreja, juntamente com Santo Ambrósio, São Gregório Magno e São Jerônimo. (GRAVIERS e JACOMET, 2008)
Na obra Confissões, gostaria de ressaltar uma argumentação que pode ser trazida ao nosso tempo. No espaço social e religioso que vivemos, a caridade é em muitas ocasiões, confundida com diversas coisas que são tudo, menos a caridade. No livro X 23. Santo Agostinho nos fala que a verdade é odiada, pois, o pecado nos leva a amar a mentira. Quando a verdade vem e nos afaga a cabeça, ela é bem-vinda, mas quando a verdade nos exorta, automaticamente nós não queremos aceita-la. Nos dias atuais, músicos que não atuam bem em uma Missa por exemplo, preferem que sejam exortados de forma doce, onde alguém irá dizê-los “Oi, hoje foi muito bom, mas vocês podem melhorar, eu sei que vocês são capazes”, quando na verdade é imprescindível que se diga que não, que não estava bom, que na Missa não se deve treinar, na Missa tudo deve ser perfeito, pois é lá que se atualiza o Calvário, é um rito sagado, é o memorial da Paixão do Senhor, é o Santo Sacrifício da Cruz e ninguém deve perder o sentido do sagrado que a Eucaristia tem. O venerável Fulton J. Sheen um dia disse que “O certo é certo ainda que todos estejam errados, e o errado é errado ainda que todos estejam certos”.
Em A cidade de Deus, Santo Agostinho nos diz sobre duas cidades. Uma era terrena, foi fundada pelo amor próprio e levava o homem ao desprezo a Deus, a segunda era a celestial, foi fundada pelo amor de Deus e levava o homem ao desprezo a si próprio. A primeira gloria-se em si, a segunda gloria-se em Deus (Agostinho, 2012). Com isso, gostaria de trazer algo que se conta sobre um episódio na vida do santo. Ele estava sentado lendo e viu um demônio passando com um livro nos ombros, ordenou que o demônio parasse e lhe dissesse que livro era aquele. O demônio obedeceu e lhe informou que aquele era o livro dos pecados dos homens. Imediatamente Agostinho pediu para ver o livro e se lá estava seu nome, ao ver, percebeu seu nome e na frente dele estava o pecado de não rezar as completas. Santo Agostinho foi até a capela, rezou piedosamente as completas e voltou. Ordenou que o demônio procurasse ali seu nome de novo. Ao ir na mesma página, encontrou ela em branco e disse que o bispo lhe envergonhara e se arrependeu de ter mostrado seu livro e sumiu confuso. (VARAZZE, 2003)
Santo Agostinho nos deixou diversos ensinamentos, alguns são facilmente encontrados, mas a sua maioria não o é, como muitos outros documentos, mas podem-se ser acessados diversos desses textos nos ofícios da Liturgia das Horas.
Sabe-se também que Santo Agostinho contribuiu para sanar diversas dúvidas teológicas, e certa vez estava com dificuldade em entender o mistério da Santíssima Trindade. Com os pensamentos cansados, Agostinho foi passear na beira da praia em busca dessas respostas. Ao longe viu uma cena que cada vez lhe chegava mais próximo. Um menino fez um buraco na areia com seu dedo, ia até o mar, enchia as mãos com água e levava até o buraco, fez isso repetidas vezes sem parar. O bispo chegou perto dele e perguntou: “Menino, você acha mesmo que consegue colocar toda a água do mar nesse buraco?”. O menino então lhe respondeu: “É mais fácil eu colocar toda a água do mar dentro desse buraco do que você descobrir o mistério da Santíssima Trindade”. Falando isso, o menino sumiu.
Chamo a atenção para esse episódio no sentido de muitas vezes querermos explicar materialmente Deus, de querermos até matar o nosso Deus com nossas teorias vindas das filosofias modernas que excluem o sobrenatural e o metafísico. Findo com uma frase do santo que deve acima de tudo, nos tranquilizar. “Se Ele fosse para ser entendido, não seria Deus”.
Santo Agostinho de Hipona, rogai por nós.
Por: José Alves da Silva Filho. Historiador pelo Centro Universitário de Brasília, paleógrafo e pesquisador pela mesma instituição sendo pesquisador também ligado à Universidade Brasília.
Fontes Consultadas:
AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus: (Contra os pagãos). Petrópolis – RJ: Vozes, 2012.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 4ª ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2014.
AQUINO, Felipe Reginaldo Queiros de. Na escola dos Santos Doutores. 6ª ed. Lorena: Cléofas, 2008.
GRAVIERS, B des. e JACOMET, T. Reconnaitre les saints. Barcelona: Ediciones Folio, S.A., 2008.
VARAZZE, Jacopo de. Legenda Áurea : vida dos santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.