Vestida de vermelho, hoje, dia 17 de outubro, a Santa Madre Igreja traz a memória de um mártir da Igreja Primitiva que foi morto no século II. Santo Inácio de Antioquia.
Inácio, ou Ignati, vem da palavra Ignis, que no latim quer dizer fogo. O coração de Santo Inácio ardeu pela vontade de ver a Deus e nem as feras o amedrontaram. Ele também era chamado de o Teófolo, o que traz Deus. Foi bispo de Antioquia da Síria, que era a terceira maior cidade do Império Romano e só era menor que Roma e Alexandria, e essa comunidade foi fundada por São Pedro, depois foi assumida por Evódio e depois por Inácio, logo, Santo Inácio sucedeu a São Pedro no episcopado de Antioquia. A Tradição diz que Inácio chegou a conhecer São Pedro e São Paulo.1.
Um escritor cristão chamado Tertuliano de Cartago (a.D. 220), disse que “O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”, e o era de fato, e assim também pensava Santo Inácio, que foi capturado em Antioquia.2
O YOUCAT.3 nos diz que mártir vem do grego, martyria, que quer dizer testemunho e continua dizendo que “um mártir cristão é uma pessoa disposta a sofrer a violência, ou mesmo a deixar-se matar, por causa de Cristo, que é a Verdade, ou por causa de uma decisão de consciência tomada a partir da fé”.
Santo Inácio no caminho entre Antioquia e Roma, escreveu diversas cartas para várias igrejas, como a Epístola a Policarpo de Esmirna, a Epístola aos Efésios, a Epístola aos Esmirniotas, a Epístola aos Filadélfos, a Epístola aos Magnésios, a Epístola aos Romanos e a Epístola aos Tralianos. Dentre essas cartas, mas especificamente ao jovem bispo de Esmirna, que era São Policarpo, ele vai dizer pela primeira vez os termos cristianismo e Igreja Católica.4
Todas essas cartas foram escritas antes de sua morte em 107, logo, é aí que nós historiadores e cristãos, conseguimos refutar as ideias que dizem que a Igreja Católica foi fundada pelo Imperador Constantino em 313. O que de fato aconteceu em 313 foi apenas o Edito de Milão, que proibia a perseguição aos cristãos. A Igreja Católica existe desde a Santa Cruz. Dizer que a Igreja nasce de Constantino em 313, é uma tentativa de apagar o rastro do sangue dos primeiros mártires, derramado em nome de Cristo e de sua Igreja nos primeiros séculos.
O amor pela morte na certeza que encontraria Cristo era tão forte em Santo Inácio de Antioquia que ele pedia incansavelmente em suas cartas que ninguém o tentasse salvar e nem o impedir de chegar até os dentes dos leões. Escreveu ele mesmo na carta que dirigiu aos romanos:
“Tenho escrito a todas as Igrejas, e a todas elas faço saber que com alegria morro por Deus, contanto que vós não mo (me) impeçais[...]. Deixai-me ser alimento das feras, porque através delas pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus: que eu seja triturado pelos dentes das feras para tornar-me puro pão de Cristo!”. E ainda continuou dizendo: “Desejo-as bem velozes. Afagá-las-ei para me devorarem depressa. Não aconteça comigo como a alguns nos quais nem sequer, medrosas, tocaram. Se elas resistirem e não me quiserem, eu as obrigarei a força.”.5. Santo Inácio sabia que seu martírio seria também sinal para os novos cristãos, e com isso também converteria mais pessoas para Cristo, e por isso foi ardente ao Coliseu no desejo de que não lhe sobrasse nem mesmo alguma parte do seu corpo, pois ele ansiava pelas dentadas dos leões.
Ao chegar em Roma, Santo Inácio foi levado até o imperador Trajano que lhe perguntou por qual motivo ele provocava revolta em Antioquia e convertia seu povo ao cristianismo e Santo Inácio respondeu: “Queira Deus que eu possa converter também a você”.6
A atitude de Santo Inácio é lembrada e comemorada pela Igreja, pois, com seu martírio, diversos cristãos viram força e sentido em seus suplícios. Nos tempos atuais, o Santo Padre o Papa Emérito Bento XVI nos alertou que o tempo dos mártires ainda não acabou e São Gregório Magno nos disse que “todos os santos foram mártires, ou pela espada, ou pela paciência”.
Hoje somos convidados para os mais diferentes tipos de martírio e muitas vezes não estamos preparados para vencê-los e aceita-los, pois, além das nossas fadigas diárias, deixamos de estudar e conhecer a vida dos santos, que em seus tormentos, tiravam forças do Altíssimo. A vida moderna quer, em sua tentação diária, nos tirar dos sofrimentos, nos oferece coisas mais fáceis, nos diz que a pobreza não é nossa, que não é bom gastar muito tempo com a nossa religião, que não precisamos falar e lembrar de Deus o tempo todo e assim começam as taxações dos mais diversos títulos para nos reduzir e acabamos por culpar o Bom Deus pelas nossas insatisfações, mas, Santo Afonso Maria de Ligório nos exortou que “os santos consideravam como presentes as doenças e as dores que Deus lhes manda”.
Afim de nos reanimar na fé, transmito que São João da Cruz nos disse que “se alguém, em qualquer época, fizer do cristianismo um caminho fácil e cômodo, não lhe dê ouvido”, lembremos de Santo Inácio de Antioquia, que mesmo diante da sofrida e dolorosa morte que lhe esperava, não deixou de transmitir o amor de Deus para o próximo, não deixou de evangelizar e não deixou de imitar Cristo. Possamos a exemplo deste mártir, ansiar pelas dentadas dos leões afim de participar da vida eterna.
Santo Inácio de Antioquia, rogai por nós.
Por: José Alves da Silva Filho. Historiador, Paleógrafo e Pesquisador pelo UniCEUB e também ligado à UnB.
Fontes consultadas:
1 – http://evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=saintfeast&id=11049&fd=0
2 – AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz. Por que sou católico? – 23ª ed. – Lorena: Cléofas, 2012.
3 – IGREJA CATÓLICA. Papa, 2005-2013 (Bento XVI); Lisboa. Cardeal Patriarca, 1998-2013 (José Policarpo) - Youcat português: catecismo jovem da Igreja Católica. 5ª ed. Lisboa: Paulus, 2013.
4 – http://cleofas.com.br/santo-inacio-de-antioquia/
5 – AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz (ORG.). Riquezas da Igreja – 3ª ed. – São Paulo: Canção Nova, 2009.
6 – VARAZZE, Jacopo de. Legenda Áurea : vida dos santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.